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quinta-feira, 22 de maio de 2008

Sinais do Tempo. A Crise que vai afundar o País...

Postos algarvios recorrem ao velho "fiado" para sobreviver
mas 'onda espanhola' já chega a Tavira - 22.05.08


Com quase meio Algarve a ir já abastecer os carros a Espanha, só os cartões de frota e o regresso do velho "fiado" vão salvando os postos de combustível do Leste da região, onde já há despedimentos, noticia hoje a Lusa.
O apelo dos preços nos postos de Espanha - que chegam a menos 40 cêntimos por litro de gasolina do que em Portugal - vem chegando progressivamente às populações mais longínquas da fronteira e chegou nas últimas semanas a Tavira, a 30 quilómetros do Guadiana."Desde o princípio do mês que se está a notar de uma maneira brutal, aqui já é muito raro alguém encher o depósito", assegura uma empregada de um posto da Galp em Tavira, o único dos visitados pela Lusa onde não se recorre às vendas a crédito para sobreviver.A funcionária calcula que os últimos aumentos dos combustíveis deram uma "machadada" de 50 por cento nas vendas, pois "praticamente toda a gente de Tavira vai a Espanha". Na maioria, os tavirenses limitam-se ao estritamente necessário para chegar ao posto espanhol mais próximo, a mais de 30 quilómetros de distância, pelo que não gastam mais de cinco ou dez euros, sublinha. Muito mais próximo da fronteira, em Vila Real de Santo António, Miguel Salas, 38 anos, também da Galp, já teve vários clientes a pôr 50 cêntimos de combustível, o que deverá dar à justa para chegar ao posto da BP do outro lado do Guadiana, a cerca de seis quilómetros de distância por asfalto."Mas a maioria das vezes metem três, cinco euros, e dizem mesmo que é só para chegar a Espanha", acrescenta o dono da minúscula estação da Galp, garantindo que só não tem sofrido mais devido à boa localização do posto, logo no início da única via de acesso a Espanha, Alcoutim e A22.Ainda assim, Miguel Salas assevera que chega a ficar mais de meia hora à míngua de clientes e que o que lhe vai valendo é o crédito "a clientes certos" e o cartão "Galp Frota", que obriga muitas empresas a abastecer na gasolineira portuguesa."O problema do fiado é que o abastecedor exige o pagamento em quatro ou cinco dias e o crédito aos clientes é para o fim do mês, o que quer dizer que fico a arder com essas importâncias durante vários dias", afirma.Mais pessimista, o seu colega da BP da EN125 próximo da rotunda de Monte Gordo - alguns quilómetros mais afastado da fronteira -, Manuel Godinho, 52 anos, afirma que esse período pode chegar aos 60 dias, já que "a maior parte das vezes pagam no fim do mês e com cheques de data posterior".Afiança que a crise está instalada há alguns anos, mas a afluência "caiu ainda mais desde há umas semanas para cá"."Este posto chegou a fazer 7.000 contos [14 mil euros] por turno, mas hoje quando fazemos 1.500 euros já é muito", contabiliza, acrescentando que já dois colegas seus tiveram que ser dispensados.Isto apesar de, acrescenta, se tratar de um posto self-service de grande afluência, o que tem mais clientes na região. Só no Verão o número de carros cresce um pouco, "porque a gente que vai a Espanha é tanta que se esgotam lá os combustíveis". Num pequeno posto de uma marca espanhola, mas com preços bem portugueses, à beira-Guadiana - portanto com vista para a mesma Espanha que lhe rouba os lucros - Francisco Mateus, 71 anos, já só se arrepende de não ter vendido o negócio quando era rentável fazê-lo, no início do século."Só não fechei porque tenho aqui familiares empregados, que dependiam disto para viver", justifica o concessionário da Repsol de Vila Real de Santo António, logo ameaçando que "qualquer dia" abandona mesmo tudo.O que lhe vai valendo, afiança, são os "dez ou doze fiados". "Alguns fugiram e deixaram dívidas", lamenta.É a frota de algumas dezenas de veículos da câmara local, que gota a gota vão salvando Francisco Mateus da falência."Uma vez veio aqui um senhor de Faro, com a mala cheia de bidões para encher em Espanha. Mas como teve medo de lá não chegar veio cá primeiro abastecer cinco euros", relata, sublinhando que chega a passar uma hora sem que qualquer veículo pare na sua bomba, à beira da principal avenida da cidade fronteiriça. A Lusa ouviu vários presidentes de câmara do sotavento algarvio, que garantiram que as idas a Espanha estão generalizadas entre as populações daquela zona do Algarve."Aqui, ninguém abastece na bomba local", garante Francisco Amaral, presidente da Câmara de Alcoutim, vila situada a 40 quilómetros da bomba espanhola mais próxima por asfalto. Por outro lado, Macário Correia, presidente da Câmara de Tavira, garante que há "postos prestes a fechar" na cidade e que tal se deve à generalização das corridas a Espanha para encher o depósito, que considera "compreensível"."A minha mulher ainda há dias lá foi abastecer", exemplifica o autarca de Tavira.

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