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segunda-feira, 28 de março de 2011

Ogier. O D. Sebastião das nuvens de poeira




Francês voltou ao país onde tinha ganho o seu primeiro rali, no ano passado. E repetiu a proeza na gravilha do Alentejo e do Algarve


Quando Sébastien Ogier teve o seu primeiro carro, aos 18 anos, ainda estava longe de pensar numa carreira nos ralis. "Era um Peugeot 106 comercial. Acho que tinha o motor básico, a diesel. De qualquer forma, era extremamente lento." A vida nos Altos Alpes não era fácil e a família não tinha dinheiro para lhe pagar a entrada num mundo caro, onde o recheio da carteira era um factor essencial. Dedicava-se antes ao esqui e ao futebol, que sempre eram mais acessíveis. O Peugeot serviu-lhe para dar as primeiras voltas e ainda ficou a ganhar: "Melhorei-o e vendi-o. Acho que ainda tive lucro." Os ralis só vieram bem mais tarde.


Em 2006, quando começou a correr, tinha problemas em sobressair. Afinal chamava-se Sébastien e estava num país onde havia um piloto com esse nome que ia lançado para se tornar o melhor de sempre nos ralis. Nessa altura, enquanto Ogier dava os primeiros passos, Loeb chegava ao terceiro de sete títulos. A ascensão começou num campeonato amador em França. O apoio financeiro da federação francesa garantiu-lhe o dinheiro que faltava e só parou no WRC, onde chegou em 2008.


Em Portugal, há um ano, venceu o seu primeiro rali. "Já tive momentos fantásticos na minha carreira, mas se tivesse de escolher um seria provavelmente a vitória aqui. Foi a primeira, depois de uma grande luta ao longo dos três dias, o que me deixou ainda mais satisfeito." Na altura, ainda na equipa júnior da Citroën, o triunfo soube-lhe ainda melhor, porque três semanas antes, na Nova Zelândia, tinha deixado fugir o primeiro lugar para Jari-Matti Latvala, na última especial.


Antes de voltar aos troços portugueses, Sébastien Ogier ainda ganhou mais um rali - no Japão, em Setembro. E, mais uma vez, chegou cá depois de uma desilusão. No México, o piloto francês foi líder da prova até perto do fim, mas não resistiu à pressão de Loeb e cometeu um erro. O acidente obrigou-o a desistir. Por isso, chegou a Portugal com a mesma frustração, a mesma necessidade de transformar um momento negativo num resultado positivo. Ontem, antes das duas últimas especiais do rali, o i encontrou-o no parque de assistência. Tinha acabado de sair do carro e estava tranquilo, disponível para uma breve conversa. "Seria óptimo [ganhar depois daquele acidente no México], faria bem à minha confiança. Acho que tive muito azar lá: um pequeno erro teve grandes consequências, porque não consegui nenhum ponto." Loeb estava a 36,8 segundos e já tinha garantido que não ia forçar o andamento para recuperar a desvantagem. Mas nem por isso Ogier dava a vitória como certa. "Se isso acontecer vou ficar muito feliz. Gosto do rali e do país, mas prefiro não falar nisso agora." Pronto, não insistimos, embora toda a gente já soubesse, naquele momento, que apenas um problema no carro ou um grande erro lhe roubaria o primeiro lugar.


Falamos-lhe na importância de ter o heptacampeão mundial como colega e Ogier olha para a esquerda. A dois metros dele está Loeb, encostado ao Citroën DS3 WRC com o número 1. Depois, sim, começa a responder. "Claro. É muito complicado batê-lo. E isso serve sempre de motivação extra. Tenho um grande respeito por ele, pela carreira dele. É o melhor piloto de ralis de sempre. É bom ser capaz de lhe ganhar às vezes." Logo a seguir aproximamo-nos de Loeb. Mas antes de conseguirmos dizer seja o que for começa uma conversa entre os dois franceses da Citroën. Estamos ali num pingue-pongue, como um árbitro de ténis a olhar para cada lado do campo, enquanto Loeb e Ogier trocam impressões sobre a etapa. Falam do carro, das afinações, de uma certa curva cega na qual só se via o céu.


Esperamos pela nossa vez, mas sem sorte: Loeb até fala, mas sem vontade. Confirma que já desistiu do primeiro lugar e segue o seu caminho. O destino do campeão ficou quase decidido no sábado, quando teve de cumprir a nona especial do rali quase por completo atrás de Mikko Hirvonen.


O finlandês teve um furo e retomou a prova já com Loeb por perto. A nuvem de poeira complicou o trabalho do homem da Citroën, que não escondeu a fúria. Assim que terminou a especial, até deu um pequeno encosto no carro de Hirvonen. "Ele destruiu a minha corrida", disse primeiro. Depois acalmou-se: "Estava furioso com o Mikko, mas não é culpa dele. Ele podia imaginar que eu estaria ali atrás, mas não podia ter a certeza. E não podia parar por nada."


I FEEL GOOD O rali entrou na recta final já com tudo praticamente definido. Faltavam duas especiais, mas apenas a última despertava maior interesse. A Power Stage - uma inovação para esta temporada - atribuía mais pontos (três, dois e um) aos três primeiros classificados. Sébastien Loeb apostou forte e ganhou. Latvala ficou um pouco atrás e Ogier - mais tranquilo - chegou em terceiro. A festa começou ainda em Santana da Serra, local da etapa, mas seguiu para o Estádio Algarve.


Quando chegou ao parque de assistência, Ogier distribuiu beijos a toda a equipa da Citroën. Depois falou outra vez aos jornalistas, até a assessora o obrigar a seguir viagem. E lá foi ele, sempre em festa. No ano passado, pegou numa scooter e arrancou a fazer cavalinhos. Desta vez, seguiu no carro para uma zona mais aberta e começou a dar espectáculo com vários piões. O Rali de Portugal serviu para provar que há mais do que um Sébastien capaz de lutar pelo título no WRC. Na conferência de imprensa, até o seu navegador - Julien Ingrassia - mostrou que a dupla está confiante.


Quando lhe perguntaram como se sentia pegou no telemóvel e encostou-o ao microfone. Então ouviu- -se "Wooooow! I feel good", pela voz de James Brown.


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