Poucas horas antes de embarcar num voo para Brasília, Júlio Rasec entrou no seu cabeleireiro de sempre, em Guarulhos, São Paulo, e deixou no ar uma frase enigmática. O teclista descrevia ao amigo de infância um sonho sobre um acidente de avião, que dias depois havia de alimentar toda a espécie de teorias da conspiração e premonição, num país que chorava ainda a morte de outro ídolo: Ayrton Senna. Os Mamonas Assassinas desapareciam assim, de forma tão meteórica como tinham surgido, sete meses antes, num irónico e trágico desastre aéreo. Mas esse tempo foi quanto bastou à banda para vender quase dois milhões de discos e se tornar o maior fenómeno instantâneo da música brasileira. O álbum, homónimo, foi editado há 15 anos.
"Era um caos. Os Mamonas viveram o sonho do rock star de uma maneira simples e muito ligada aos fãs. Algo que hoje vemos de forma comum, com as bandas a comunicarem através da internet. Eles atendiam toda a gente na rua", recorda ao i o produtor do disco. A fórmula do sucesso poucos poderão assegurá-la com certeza, mas Rick Bonadio avança "a forma simples como os Mamonas conseguiam, através da música, contar piadas e brincadeiras ao povo". A isto, acrescente-se talvez o facto de estarmos a falar de um grupo que representava o povo brasileiro em toda a sua diversidade: eram japoneses, caipiras, e paulistas da periferia.
Antes de se chamar Mamonas Assassinas, a banda, então apenas com três elementos, actuava com o nome de Utopia, tocando versões dos brasileiros Legião Urbana e Titãs, e alguns êxitos americanos. Num dos muitos concertos em pequenos bares da periferia paulista, o público quis ouvir uma música de Guns N'' Roses. Sem a letra, o baixista Samuel Reoli pediu ajuda de alguém do público. Alexsander Alves, então com 17 anos, saltou para o palco e improvisou. Estava encontrado o vocalista, que pouco depois traria consigo o teclista e amigo, Júlio Rasec.
Apesar de discretos, os Utopia chegaram a gravar um disco - também produzido por Bonadio - mas as vendas não chegaram sequer às 100 unidades. "Sempre disse que aquele não era o caminho. Um dia, só de brincadeira, o Dinho gravou duas músicas para um churrasco, chamadas ''Pelados em Santos'' e ''Robocop Gay. Era uma coisa bem brega e tradicional, e eu sugeri que misturassem ali um pouco de rock''", conta o produtor. Duas destas faixas acabaram por chegar às mãos de três editoras. Pouco depois, banda assinava um contrato com a EMI.
O fenómeno foi instantâneo e transversal. Durante sete meses, os Mamonas Assassinas deram uma média de oito concertos por semana, percorrendo o Brasil de um ponta à outra, e tocando praticamente em todos os estados brasileiros - muitas vezes com dois espectáculos por dia. A isto, juntaram ainda um sucesso comercial raro, com o álbum de estreia a atingir rapidamente o disco de diamante - correspondente a um milhão de cópias vendidas - e a banda a cobrar um dos cachets mais elevados de todo o Brasil.
Apesar disto, os elementos dos Mamonas mantiveram-se fiéis às suas origens humildes, fazendo questão de o dizer publicamente, como testemunham muitos dos vídeos feitos em concerto. "Somos os mais caros, os que vendem mais, mas continuamos de Guarulhos", gritava Dinho num espectáculo. "Eles estavam apenas a divertir-se, mas sabiam ao mesmo tempo o papel profissional de cada um", acredita Rick Bonadio.
O primeiro espectáculo fora do Brasil estava previsto para os primeiros dias de Março de 1996. "Fiquei encarregado de comprar máscaras de hospital, iguais à que o Michael Jackson usava, lembra? O Dinho queria descer do avião, em Lisboa, com uma. Foi essa a nossa última conversa." Na véspera da partida para Portugal, no dia 2 de Março de 1996, após um concerto em Brasília, o avião que transportava a banda despenhou-se nas imediações do aeroporto de Guarulhos. Ironicamente, à porta de casa.
In I Online
"Era um caos. Os Mamonas viveram o sonho do rock star de uma maneira simples e muito ligada aos fãs. Algo que hoje vemos de forma comum, com as bandas a comunicarem através da internet. Eles atendiam toda a gente na rua", recorda ao i o produtor do disco. A fórmula do sucesso poucos poderão assegurá-la com certeza, mas Rick Bonadio avança "a forma simples como os Mamonas conseguiam, através da música, contar piadas e brincadeiras ao povo". A isto, acrescente-se talvez o facto de estarmos a falar de um grupo que representava o povo brasileiro em toda a sua diversidade: eram japoneses, caipiras, e paulistas da periferia.
Antes de se chamar Mamonas Assassinas, a banda, então apenas com três elementos, actuava com o nome de Utopia, tocando versões dos brasileiros Legião Urbana e Titãs, e alguns êxitos americanos. Num dos muitos concertos em pequenos bares da periferia paulista, o público quis ouvir uma música de Guns N'' Roses. Sem a letra, o baixista Samuel Reoli pediu ajuda de alguém do público. Alexsander Alves, então com 17 anos, saltou para o palco e improvisou. Estava encontrado o vocalista, que pouco depois traria consigo o teclista e amigo, Júlio Rasec.
Apesar de discretos, os Utopia chegaram a gravar um disco - também produzido por Bonadio - mas as vendas não chegaram sequer às 100 unidades. "Sempre disse que aquele não era o caminho. Um dia, só de brincadeira, o Dinho gravou duas músicas para um churrasco, chamadas ''Pelados em Santos'' e ''Robocop Gay. Era uma coisa bem brega e tradicional, e eu sugeri que misturassem ali um pouco de rock''", conta o produtor. Duas destas faixas acabaram por chegar às mãos de três editoras. Pouco depois, banda assinava um contrato com a EMI.
O fenómeno foi instantâneo e transversal. Durante sete meses, os Mamonas Assassinas deram uma média de oito concertos por semana, percorrendo o Brasil de um ponta à outra, e tocando praticamente em todos os estados brasileiros - muitas vezes com dois espectáculos por dia. A isto, juntaram ainda um sucesso comercial raro, com o álbum de estreia a atingir rapidamente o disco de diamante - correspondente a um milhão de cópias vendidas - e a banda a cobrar um dos cachets mais elevados de todo o Brasil.
Apesar disto, os elementos dos Mamonas mantiveram-se fiéis às suas origens humildes, fazendo questão de o dizer publicamente, como testemunham muitos dos vídeos feitos em concerto. "Somos os mais caros, os que vendem mais, mas continuamos de Guarulhos", gritava Dinho num espectáculo. "Eles estavam apenas a divertir-se, mas sabiam ao mesmo tempo o papel profissional de cada um", acredita Rick Bonadio.
O primeiro espectáculo fora do Brasil estava previsto para os primeiros dias de Março de 1996. "Fiquei encarregado de comprar máscaras de hospital, iguais à que o Michael Jackson usava, lembra? O Dinho queria descer do avião, em Lisboa, com uma. Foi essa a nossa última conversa." Na véspera da partida para Portugal, no dia 2 de Março de 1996, após um concerto em Brasília, o avião que transportava a banda despenhou-se nas imediações do aeroporto de Guarulhos. Ironicamente, à porta de casa.
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Sem dúvida, umas das perdas do mundo da música que mais me marcaram, a par de Kurt Kobain e à pouco tempo Michael Jackson...
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